domingo, 20 de novembro de 2011

Sobre o filme "O primeiro mentiroso"


Melhor do que aquela proposta ridícula do filme "O Mentiroso", com Jim Carrey, é a proposta do filme "O Primeiro Mentiroso", em que toda a sociedade fala a verdade e aparece um cara que mente pela primeira vez. Primeiramente o filme mostra algumas facetas do povo estadunidense, como o racismo, o autoritarismo e a sociedade focada na estérica.

Lógico que o cara mente a primeira vez por dinheiro e é por dinheiro, também, que ele continua mentindo. Tem um momento bacana em que ele começa a consertar as coisas apenas falando mentiras, demonstrando o quanto a palavra pode mudar alguma coisa ou ao menos do quanto a felicidade da nossa sociedade é pautada em mentiras, bem como as verdades são coisas que tornam a vida em comunidade chata.

Mensagem obscura, de certa forma. A história começa a ser reescrita a partir da mentira, palavra sequer inexistente no vocabulário da população, e ninguém teria recursos pessoais para contestar isso. Mark, o personagem principal que mente pela primeira vez, é um escritor de roteiro para filmes que, nesta realidade, não conta nada além da verdade. Assim ele muda a história colocando-o como centro histórico, ficando rico e famoso.

Logicamente que há uma lição de moral. A deste filme é que a mentira o torna poderoso mas ele não consegue, com isso, o amor da mulher que deseja, tampouco salvar a vida de sua mãe, embora a convença de que a morte é algo melhor do que a vida, fazendo-a partir feliz. Este é um ponto de virada do filme, pois as pessoas que o ouvem falar isso para a sua mãe espalham que ele sabe o que acontece após a morte, e surge o princípio de uma religião... na mentira.

Curti a idéia da igreja toda branca sem sinal de uma religião específica, mas esse é o cenário do final absoluto do filme, e, assim, prefiro que quem tenha interesse veja. Vale a pena.

Ficha Técnica
Título: O Primeiro Mentiroso (The Invention of Lying)
Direção: Ricky Gervais e Matthew Robinson
Roteiro: Ricky Gervais e Matthew Robinson
Elenco: Ricky Vervais, Jennifer Garner, Rob Lowe, Jonah Hill, Jeffrey Tambor
Produção: Warner Bro. Pictures, Radar Pictures
Distribuição: Universal Home Entertainment
País: EUA
Ano: 2009

Sobre o filme "Cinema, aspirinas e urubus"


Antes de mais nada achei o tema do filme fantástico. Em verdade, nada de novo. Tenho certeza que o roteirista se inspirou muito no filme "No decurso do tempo", de Win Wenders. Mas o cenário brasileiro, claro, dá uma repaginada em qualquer estória.

Alias, até o alemão no volante remete ao filme de Wenders, mas a presença nordestina transforma a narrativa. O fato de um germânico vender aspirinas no interiorzão do país através de filmes cinematográficos tirando literalmente de quem não tem para dar a deus sabe se lá para quem, é qualquer coisa fora de série. Roteiro boníssimo, como aliás é o forte das boas obras brasileiras, fazendo-nos sentar para acompanharmos realmente uma história.

Eu diria, vejam os dois. Por uma questão de opção, Win Wenders fez o filme dele, em 1973, em preto e branco, cor que, aliás, caiu muito bem no sertão nordestino de Glauber. Todavia, teve muita crueza no file das aspirinas também, e beleza e diálogos ótimos e ainda mais uma maneira de se ver a vida diante da morte. Bacana demais.

Sobre o filme "Sem Destino"


Um filme legal. Bem feito, bem filmado, com locações ótimas e paisagens fantásticas. Porém absurdamente americanóide. A analogia do motoqueiro como um vaqueiro moderno, portanto da moto enquanto um cavalo motorizado, é realizada a todo instante. Símbolos americanos como a própria bandeira dos EUA, são uma constante.

A moto representa aventura, desprendimento, independência. O período hippie está bem retratado, representando a juventude de uma certa época, com suas drogas e alucinações, algo não muito comum nos filmes estadunidenses. As comunidades alternativas também estão presentes, bem como um outro lado do povo norte-americano, ao invés de desconfiados e mortais, acolhedores e amigáveis.

Talvez o bacana desse filme consista, para mim, mais nesse "lado B" dos estadunidenses do que em toda a aventura em que o filme se passa. Os atores principais conseguem passar um ar realmente desencanados através dos personagens Billy e Wyatt, para as coisas que os cercam e a trilha sonora, como uma par de clássicos holywoodianos, é uma maravilha, a exceção, por mera questão de gosto, dos countries americanóides demais. Mulheres lindas e salve Peter Fonda.

Importante destacar a importância deste filme como a afirmação da moto enquanto um estilo de vida. Claro que o filme não cria tal estilo, mas ao representá-lo, o reafirma. Os diálogos são bem soltos e crus dentro do que holywood permite, e a paisagem passando na velocidade das motos enquanto uma canção rola é tocante. Também umas câmeras bem alternativas filmando "aleatoriamente" dão um tom lúdico (ou junkie) à estória.

Tem também um certo lado de crítica da cultura estadunidense. Serem presos por desfilarem sem autorização, os subornos policiais e a presença do racismo cultural deste povo, os americanos tacanhas e provincianos do interior. O final ultra anti-americano para a época é chocante. O americanóide mais porreta que tem.

Sobre o filme O Palhaço, de Selton Mello


Recomendo a quem possa interessar o filme "O palhaço". Acredito ser a obra-prima de Selton Mello como artista. Atua maravilhosamente bem, é um filme bem dirigido e a presença do ator também no roteiro amplia as possibilidades de ação de um dos maiores atuantes do cinema de guerrilha brasileiro.

A história é bela e a sinopse pode ser pega em qualquer site, com ficha técnica e tudo. Fica aqui uma opinião, apenas, sem falar que é mais uma película (nem é película, mas fica a expressão) que explora o mais que rico cenário brasileiro, com paisagem pra filmar qualquer coisa, desde Montanhas a lá Senhor dos Anéis e ainda florestas, pântanos, bosques, serrado, desertos... o que se quiser. Vai no estilo de "O Cangaceiro", "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Cinema, Aspirinas e Urubus" no que toca a demonstrar a riqueza de nossa paisagem.

Se alguém chorar, tá perdoado, mas não serão as emoções à flor da pele que elevará esse filme ao que ele é, e sim a qualidade em si. Recomendo.

Vale a pena ver a série Spartacus


Interessante a série chamada Spartacus. Quem assistir pensando encontrar qualquer relação com o épico filme de Stanley Kubrick, é melhor nem ligar a televisão. Mas para quem gosta de umas boas lutas de espada, vale bastante coisa.

Primeiramente na série já está nítida a utilização da linguagem do filme 300 de Sparta, baseado nos quadrinhos de Frank Miller. A maneira que o sangue sai, a falta de referência de solo ao desencadear das lutas são legais.

Bacana ainda são as câmeras "subjetivas" (esse sem dúvida não é o termo correto) colocadas dentro do elmo, que visualizam o rosto dos gladiadores pela parte de dentro e suas reações enquanto travam combate com os seus inimigos.

Enfim, mais uma boa série épica nessa fase de grandes seriados do gênero. Recomendo.

O céu de Curitiba e a porra de um helicóptero...


Quando o Win Wenders esteve aqui no Brasil ainda este ano (ou foi no final do ano passado?), lembro-me de ele ter respondido, quando perguntaram sobre o Brasil, que ficou assustado com o tanto de helicópteros que havia no céu de São Paulo. Afirmou que acordava assustado pensando que estava em uma guerra.

Achei aquilo um exagero, coisa de europeu, etc e tal. Mas meu chapéu de couro!!! Hoje, no céu de Curitiba, tinha um (apenas um) helicóptero rodando no centro da cidade em plena manha de domingo, que deveria ser tipo o que canta o Tim Maia, "o sol amanhecer e ver a vida acontecendo".

Nada disso, impossível dormir. Foram voltas e voltas até que se tornava impossível imaginar alguém dormindo em toda a cidade. Acordei pedindo desculpas ao Win Wenders e afirmando que ele tinha razão. Se um helicóptero fazia todo aquele barulho, mais de um é guerra mesmo. Pelo que vemos nos filmes de ficção científica, o futuro vai mais ou menos por aí. Só que antes de ser ordenado e silencioso, o céu será um caos de guerra... aliás, ainda hoje os carros não são silenciosos, porque o céu um dia será.

Só me pergunto se o sujeito que pilotava aquele helicóptero, seja um profissional da mídia ou um empresário endinheirado, tem uma mente tão utilitária que nem imagina que tem gente dormindo no domingo de manhã. Se eu tivesse uma bazuca, agora estava preso por atentado terrorista, porque eu teria derrubado a porra daquele helicóptero.