quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

É bom ver filmes relacionados a Música



Em termos de música, algo que faz muita diferença é saber a história da canção. As vezes a melodia tem uma história diferente da letras, outras vezes caminham juntas. Em diversos momentos, a melodia é feita para a voz de alguém e, assim, melodia, letra e voz possuem sua própria trajetória. Quando vejo essa enxurrada de filmes documentais sobre canções, falando dos Titãs, dos Secos e Molhados, Festivais e por aí vai, a cada vez que saio do cinema ou dos momentos de assistir, fico maravilhado com a série de histórias que acompanham uma simples canção. Quando ouço as músicas novamente, é como se fossem novas melodias, novas letras e uma nova voz perpassando aqueles poucos minutos que sempre me tocaram. Vale muito procurar saber informações sobre músicas importantes para a nossa vida ou apenas gostosas de serem ouvidas. Recomendo que se procure faltar o mínimo possível essas salas de cinema sobre cantores, cantantes ou épocas musicais, pois as melodias, letras e vozes ficam ainda mais enriquecidas pela história que contextualiza tais momentos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Sobre o filme "O primeiro mentiroso"


Melhor do que aquela proposta ridícula do filme "O Mentiroso", com Jim Carrey, é a proposta do filme "O Primeiro Mentiroso", em que toda a sociedade fala a verdade e aparece um cara que mente pela primeira vez. Primeiramente o filme mostra algumas facetas do povo estadunidense, como o racismo, o autoritarismo e a sociedade focada na estérica.

Lógico que o cara mente a primeira vez por dinheiro e é por dinheiro, também, que ele continua mentindo. Tem um momento bacana em que ele começa a consertar as coisas apenas falando mentiras, demonstrando o quanto a palavra pode mudar alguma coisa ou ao menos do quanto a felicidade da nossa sociedade é pautada em mentiras, bem como as verdades são coisas que tornam a vida em comunidade chata.

Mensagem obscura, de certa forma. A história começa a ser reescrita a partir da mentira, palavra sequer inexistente no vocabulário da população, e ninguém teria recursos pessoais para contestar isso. Mark, o personagem principal que mente pela primeira vez, é um escritor de roteiro para filmes que, nesta realidade, não conta nada além da verdade. Assim ele muda a história colocando-o como centro histórico, ficando rico e famoso.

Logicamente que há uma lição de moral. A deste filme é que a mentira o torna poderoso mas ele não consegue, com isso, o amor da mulher que deseja, tampouco salvar a vida de sua mãe, embora a convença de que a morte é algo melhor do que a vida, fazendo-a partir feliz. Este é um ponto de virada do filme, pois as pessoas que o ouvem falar isso para a sua mãe espalham que ele sabe o que acontece após a morte, e surge o princípio de uma religião... na mentira.

Curti a idéia da igreja toda branca sem sinal de uma religião específica, mas esse é o cenário do final absoluto do filme, e, assim, prefiro que quem tenha interesse veja. Vale a pena.

Ficha Técnica
Título: O Primeiro Mentiroso (The Invention of Lying)
Direção: Ricky Gervais e Matthew Robinson
Roteiro: Ricky Gervais e Matthew Robinson
Elenco: Ricky Vervais, Jennifer Garner, Rob Lowe, Jonah Hill, Jeffrey Tambor
Produção: Warner Bro. Pictures, Radar Pictures
Distribuição: Universal Home Entertainment
País: EUA
Ano: 2009

Sobre o filme "Cinema, aspirinas e urubus"


Antes de mais nada achei o tema do filme fantástico. Em verdade, nada de novo. Tenho certeza que o roteirista se inspirou muito no filme "No decurso do tempo", de Win Wenders. Mas o cenário brasileiro, claro, dá uma repaginada em qualquer estória.

Alias, até o alemão no volante remete ao filme de Wenders, mas a presença nordestina transforma a narrativa. O fato de um germânico vender aspirinas no interiorzão do país através de filmes cinematográficos tirando literalmente de quem não tem para dar a deus sabe se lá para quem, é qualquer coisa fora de série. Roteiro boníssimo, como aliás é o forte das boas obras brasileiras, fazendo-nos sentar para acompanharmos realmente uma história.

Eu diria, vejam os dois. Por uma questão de opção, Win Wenders fez o filme dele, em 1973, em preto e branco, cor que, aliás, caiu muito bem no sertão nordestino de Glauber. Todavia, teve muita crueza no file das aspirinas também, e beleza e diálogos ótimos e ainda mais uma maneira de se ver a vida diante da morte. Bacana demais.

Sobre o filme "Sem Destino"


Um filme legal. Bem feito, bem filmado, com locações ótimas e paisagens fantásticas. Porém absurdamente americanóide. A analogia do motoqueiro como um vaqueiro moderno, portanto da moto enquanto um cavalo motorizado, é realizada a todo instante. Símbolos americanos como a própria bandeira dos EUA, são uma constante.

A moto representa aventura, desprendimento, independência. O período hippie está bem retratado, representando a juventude de uma certa época, com suas drogas e alucinações, algo não muito comum nos filmes estadunidenses. As comunidades alternativas também estão presentes, bem como um outro lado do povo norte-americano, ao invés de desconfiados e mortais, acolhedores e amigáveis.

Talvez o bacana desse filme consista, para mim, mais nesse "lado B" dos estadunidenses do que em toda a aventura em que o filme se passa. Os atores principais conseguem passar um ar realmente desencanados através dos personagens Billy e Wyatt, para as coisas que os cercam e a trilha sonora, como uma par de clássicos holywoodianos, é uma maravilha, a exceção, por mera questão de gosto, dos countries americanóides demais. Mulheres lindas e salve Peter Fonda.

Importante destacar a importância deste filme como a afirmação da moto enquanto um estilo de vida. Claro que o filme não cria tal estilo, mas ao representá-lo, o reafirma. Os diálogos são bem soltos e crus dentro do que holywood permite, e a paisagem passando na velocidade das motos enquanto uma canção rola é tocante. Também umas câmeras bem alternativas filmando "aleatoriamente" dão um tom lúdico (ou junkie) à estória.

Tem também um certo lado de crítica da cultura estadunidense. Serem presos por desfilarem sem autorização, os subornos policiais e a presença do racismo cultural deste povo, os americanos tacanhas e provincianos do interior. O final ultra anti-americano para a época é chocante. O americanóide mais porreta que tem.

Sobre o filme O Palhaço, de Selton Mello


Recomendo a quem possa interessar o filme "O palhaço". Acredito ser a obra-prima de Selton Mello como artista. Atua maravilhosamente bem, é um filme bem dirigido e a presença do ator também no roteiro amplia as possibilidades de ação de um dos maiores atuantes do cinema de guerrilha brasileiro.

A história é bela e a sinopse pode ser pega em qualquer site, com ficha técnica e tudo. Fica aqui uma opinião, apenas, sem falar que é mais uma película (nem é película, mas fica a expressão) que explora o mais que rico cenário brasileiro, com paisagem pra filmar qualquer coisa, desde Montanhas a lá Senhor dos Anéis e ainda florestas, pântanos, bosques, serrado, desertos... o que se quiser. Vai no estilo de "O Cangaceiro", "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Cinema, Aspirinas e Urubus" no que toca a demonstrar a riqueza de nossa paisagem.

Se alguém chorar, tá perdoado, mas não serão as emoções à flor da pele que elevará esse filme ao que ele é, e sim a qualidade em si. Recomendo.

Vale a pena ver a série Spartacus


Interessante a série chamada Spartacus. Quem assistir pensando encontrar qualquer relação com o épico filme de Stanley Kubrick, é melhor nem ligar a televisão. Mas para quem gosta de umas boas lutas de espada, vale bastante coisa.

Primeiramente na série já está nítida a utilização da linguagem do filme 300 de Sparta, baseado nos quadrinhos de Frank Miller. A maneira que o sangue sai, a falta de referência de solo ao desencadear das lutas são legais.

Bacana ainda são as câmeras "subjetivas" (esse sem dúvida não é o termo correto) colocadas dentro do elmo, que visualizam o rosto dos gladiadores pela parte de dentro e suas reações enquanto travam combate com os seus inimigos.

Enfim, mais uma boa série épica nessa fase de grandes seriados do gênero. Recomendo.

O céu de Curitiba e a porra de um helicóptero...


Quando o Win Wenders esteve aqui no Brasil ainda este ano (ou foi no final do ano passado?), lembro-me de ele ter respondido, quando perguntaram sobre o Brasil, que ficou assustado com o tanto de helicópteros que havia no céu de São Paulo. Afirmou que acordava assustado pensando que estava em uma guerra.

Achei aquilo um exagero, coisa de europeu, etc e tal. Mas meu chapéu de couro!!! Hoje, no céu de Curitiba, tinha um (apenas um) helicóptero rodando no centro da cidade em plena manha de domingo, que deveria ser tipo o que canta o Tim Maia, "o sol amanhecer e ver a vida acontecendo".

Nada disso, impossível dormir. Foram voltas e voltas até que se tornava impossível imaginar alguém dormindo em toda a cidade. Acordei pedindo desculpas ao Win Wenders e afirmando que ele tinha razão. Se um helicóptero fazia todo aquele barulho, mais de um é guerra mesmo. Pelo que vemos nos filmes de ficção científica, o futuro vai mais ou menos por aí. Só que antes de ser ordenado e silencioso, o céu será um caos de guerra... aliás, ainda hoje os carros não são silenciosos, porque o céu um dia será.

Só me pergunto se o sujeito que pilotava aquele helicóptero, seja um profissional da mídia ou um empresário endinheirado, tem uma mente tão utilitária que nem imagina que tem gente dormindo no domingo de manhã. Se eu tivesse uma bazuca, agora estava preso por atentado terrorista, porque eu teria derrubado a porra daquele helicóptero.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre o filme "Quando Nietzsce Chorou"

O filme “Quando Nietzsche chorou” é sem dúvida uma boa estória sobre uma grande história. Eu nem cheguei a me deter quanto à veracidade dos fatos (o que também não pretendo fazer) e tampouco li o livro homônimo que originou a película, ainda que tenha ficado curioso quanto a tal conteúdo. Importa, para mim, que acima de tudo foi uma boa narrativa contada de maneira irônica sem deixar de ter certa profundidade, mesmo que saibamos que em termos holywoodianos profundidade não é das ferramentas preferidas.

A atuação dos atores foi interessante, embora fosse preferível que o filme estivesse em alemão para maior convencimento, mas os sotaques germânicos, além da atriz com acento russo (que interpretava Lou Salome), foram perceptíveis até mesmo entre os que não dominam a fala inglesa.
O intrigante é que aqueles que já se dedicaram um livro que fosse na profunda alma de Nietzche se perguntaria, como eu fiz e imagino que outros o fizeram, “o que diabos tiraria lágrimas de Nietzsche?”. Em princípio, um homem fora de seu tempo, um precursor de tempos vindouros, um filósofo que não tinha como ser compreendido em seu contexto mas que nem por isso fraquejou e desta dificuldade retirou suas forças. Um homem forjado no perigo que prenunciou (ou melhor, anunciou) a morte de Deus.

Claro que o clichê de “Deus está morto” foi utilizado levianamente no filme (é Estados Unidos, não esqueçamos). Também é claro que o Sigmund (Dr. Freud) foi utilizado como o pensador “pop” que merecidamente o é, e como tal, um ator perfeitamente bonito e apessoado, chamado carinhosamente de “Sig” pelos maiorais do filme. Mas poderia ser pior. Os roteiristas estadunidenses poderiam ter mudado a narrativa do livro e colocado Freud com Nietzsche simplesmente porque venderia melhor (já fizeram algo parecido, como no caso do “Liga Extraordinária”, um entre milhares de exemplos). Mas aqui não é o caso para se falar do que poderia ter sido feito e sim do que fizeram.

Fato é que conseguiram colocar uma comédia irônica quando o filme centrava mais no Dr. Breuer ao mesmo tempo em que passaram a desesperadora loucura genial do filósofo alemão que pensou o suprahomem. Fato importante de se fazer nota, separaram bem as idéias nietzscheanas das idéias nazistas, inclusive colocando erroneamente (mas não despropositadamente) que tais idéias separaram Nietzsche de Wagner. Fizeram isto de maneira subentendida, mas o fizeram.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mostra Werner Herzog


A partir desta segunda-feira (26) a Cinemateca exibe uma mostra de documentários do cineasta alemão Werner Herzog, em parceria com a Fundação Cultural e o Goethe-Institut de Curitiba. Serão exibidos 11 documentários produzidos entre 1962 e 2005 como “Fata Morgana”, “Terra do Silêncio e da Escuridão”, até os mais recentes “Além do Azul” e “O Diamante Branco”. Os filmes têm legendas em português e a entrada é gratuita.

Programação Mostra Werner Herzog
De 26 a 30 de setembro de 2011

Cinemateca
Rua Carlos Cavalcanti, 1174, São Francisco
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às
22h30. Sábados e domingos, das 14h30 às 22h30.
Informações: (41) 3321-3252

Site do qual retirei a informação (com programação): http://www.curitibacultura.com.br/noticias/mostra-werner-herzog

Evento Desvendando Estômago


Mais informações em: http://www.espacodearte.com.br/noticias_interna.php?ID=60

domingo, 25 de setembro de 2011

Conan 2011: Bons Personagens



.....O novo filme "Conan o Bárbaro" tem uma grande vantagem sobre as produções anteriores: os personagens. Inicialmente, a maneira com que os produtores e o diretor idealizaram o Conan ainda jovem foi fantástica e surpreendente. Algo bem melhor que a idéia ridícula de colocar o cimério de bronze desenvolvendo a sua força empurrando um moinho por toda a vida e, repentinamente, sendo um grande mestre das arenas gladiadoras. Os velhos filmes do Conan são fantásticos e são parte da minha infância da minha maneira de ser quando criança, mas vendo hoje, isso de ficar forte como escravo empurrando uma roda é pífia.
.....O nascimento de Conan no campo de batalha é incrível e a personagem do Pai de Conan (Ron Perlman) ficaram bem melhor do que se poderia supor. Pobre do Perlman que agora certamente estará em muitos filmes empunhando espada, porque caiu muito bem.
.....A dupla maligna formada por Rose McGovan no papel de Marique e Stephen Lang como Khalar Zym é de não querer que eles sejam mortos para poderem aparecer na próxima edição que, espero, seja logo encaminhada.
.....Aliás, diga-se, nenhum personagem está tão interessante quando Zym. Lang conseguiu colocar ao mesmo tempo frieza, melancolia e maldade em um rosto frio e rústico que é quase a própria síntese da Era Hiboriana. Não podemos esquecer da caracterização dos Pictos e do ladrão Ela-Shan que representou algo mais que aquele ladino cômico dos 80, que ficou bacana, mas era pouco hiboriano.
.....Mas se o Conan ainda garoto ficou mais que perfeito, faltou algo para que Jason Momoa ficasse perfeito no papel de Conan. Primeiro, a referência de Schwarzenegger ainda é muito forte no imaginário das pessoas da minha idade. Segundo, latino demais para um cimério nórdico. Terceiro, ele ainda está próximo demais da personagem Khal Drogo. Finalmente, o cimério de penetrantes olhos azuis estava demasiado amorenado, pouco Howardiano, mas a personalidade ficou interessante.

Conan 2011: O que querem os Conamaníacos???


.....Afinal, o que querem os Conamaníacos?
.....No imaginário do universp Conan existem basicamente três referências: a obra do Howard, os quadrinhos e os velhos filmes com o Schwarzenegger. Eu me arrisco a afirmar que os produtores do atual filme tentaram agradar aos fanáticos por essas três frentes de referência do nosso herói cimério.
.....Inicialmente o Conan do atual filme é mais bárbaro que o protagonizado por Arnie, aproximando-se mais das narrativas de Howard. O universo que envolve a obra recente é mais violenta e sangrenta, menos enfeitada de armaduras firulentas, helmos exageradamente espetados e placas protetoras sem fins práticos que não sejam para marcar algumas características dos anos 80.
.....Embora o cenário do filme de 1982 procurou ser fiel à obra de Howard, acredito que a nova produção conseguiu ser ainda mais fiel. Inclusive houve a referência à Torre do Elefante e à morte de Yara. Mas havia ainda alguns compromissos a serem cumpridos: com os quadrinhos e com as produções de John Milius (1982) e Richard Fleischer (1984).
.....Pois bem, dos quadrinhos é bem fácil encontrar elementos. Salvar uma bela mulher; a última cena ser a bela mulher salva no lombo do cavalo do bárbaro (que acabará apaixonada pelo bárbaro); o templo milenar sendo destruído após a passagem de Conan; a auto-confiança ciméria; o álcool com tavernas e mulheres semi-nuas; a matança; o sangue; e, entre tantas outras referências, a violência generalizada em cada personagem, mesmo os mais pacíficos.
.....Para o fã dos velhos filmes houveram analogias: a cena dos heróis nadando para achar uma passagem por debaixo da água; a entrada no QG do inimigo por calabouços; e, por fim, a própria história dos filmes que se confundem entre vingança pela morte da família, magalomania de inimigos feiticeiros que querem dominar o mundo e um romance forçado com uma moça com destinos parecidos rumo ao sacrifíco para dar poder aos antagonistas. Quase a mesma história.
.....Ainda assim, muito fã do cimério não estão gostando do filme, enquanto novos fãs estão surgindo. Afinal, o que eles desejam. Eu tinha apenas três expectativas: que o Conan não se apaixonasse, que houvesse muita violência sanguinária e que o bárbaro nem cogitasse ações para dominar o mundo. E foi o que aconteceu, as motivações do cimério de bronze foram todas pessoais, embora tenham se confundido com motivações maiores dentro da narrativa.

sábado, 24 de setembro de 2011

Um belo momento do cinema...

Conan me Deixou Velho


.....Me aconteceu uma coisa estranha essa semana. Chamei o meu irmão mais velho (Thiago) e um amigo do RPG (Xoiu) para vermos o novo filme do Conan o Bárbaro juntos e fui surpreendido. Ao sair da sala de cinema começamos a comentar a relação do filme com os quadrinhos e com os filmes anteriores e fiquei de queixo caído quando descobri que o meu amigo Xoiu jamais leu um quadrinho do Conan. Pior! Nunca tinha visto o velho filme com o Mister Universo Arnie. Lembrei que o caro amigo tem hoje apenas 26 anos e me senti velho.
.....Mesmo assim, a primeira pergunta que me veio na cabeça é como um jogador de RPG nem faz idéia do que significa o imaginário do universo hiboriano para a conversão de seres humanos mortais em rpgistas. Comentei que o primeiro personagem de AD&D do meu irmão, ali presente, foi um bárbaro chamado Conan, enquanto o meu pioneiro (não valia imitação) foi um mago chamado Mitra. Thiago respondeu com propriedade “muitos primeiros personagens de RPG devem ter se chamado Conan”. Com certeza!
.....Claro que filme não tem época, ainda mais com o acesso através das novas plataformas midiáticas. Mas enfim, ele não acompanhou o surgimento do Governador da Califórnia naquele filme histórico em que ele, como bárbaro, se projeta para, após tentar exterminar o futuro, virar Patrão Estadual. Muitas metáforas. Ah! Nem acompanhou as maravilhosas obras conanicas de Roy Thomas e John Buscema. Paciência, perdeu muita, muita, mas muita diversão.
.....Penso em quantos jogadores atuais são desligados da figura do cimério de bronze, certamente o responsável maior pela minha entrada na adolescência ao mundo do RPG, ainda que tenha lido o bárbaro na minha mais tenra infância. Aquelas idas à banca de revista de mãos dadas com a minha mãe no meio e meu irmão segurando a outra mão, ainda ressonam na minha cabeça, tamanha era a ânsia para ter logo as páginas em preto e branco desenhadas por Thomas, Buscema e Ernie Chan.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Como Treinar Seu Dragão.


Essa semana eu assisti ao filme "Como Treinar o Seu Dragão" e gostei muito. É uma animação em que os dragões são de certa forma cômicos e não tão imponente como nas versões cavaleirescas de ficção medieval, mas é muito bacana a maneira com que os realizadores do filme idealizam o treinamento para ser um "Wyrmslayer", ou seja, matador de dragões. A estética dos Vikings está fantástica e o cenário de gelo e montanhas é perfeita.
Segue um link da UOL sobre o filme: http://cinema.uol.com.br/ultnot/reuters/2010/03/25/estreia-como-treinar-seu-dragao-mostra-novo-bicho-de-estimacao.jhtm

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conan Disse "Faça-se a Luz", e a Luz Se Fez


É impressionante como certos detalhes podem ser importantes na vida de uma pessoa. Aliás, o que pode ser mais importante em uma vida humana do que os detalhes? Não é aqui que se baseia momentos decisivos da psicanálise? Pois bem, sem diletantismos, voltemos aos detalhes.
Enquanto envelheço, fico remontando partes desse quebra-cabeça que sou eu e me pego no flagrante ao perceber que coisas simples, até mesmo ridículas, acabam por ser fundamentais para a minha maneira de agir nos dias de hoje. Estou sendo confuso e prolixo, mas me explico, e para me explicar, obrigo-me a ir direto ao ponto: Conan.
Pois é, admitir que o universo Conan é uma das fatias mais significativas no bolo da minha vida foi difícil, mas não há muito o que fazer. Eu era um pedacinho de gente quando o filme estrelado pelo atual governador da Califórnia (vou me esforçar ao máximo para não ter que escrever o nome do Arnoldinho) passou na televisão. Não importa o que eu pense de tal filme hoje, aquilo mudou para sempre a minha vida.
Destrinchando o minha vida em outras pequenas fatias, desde antes do Conan que eu adoro desenhar. Claro que ainda não encontrei uma criança passiva diante de papel em branco e um punhado de lápis de cor, mas o que eu quero dizer é que ainda um toquinho de gente eu desenhava acima da média da criançada normal da minha idade. Estamos falando quatro anos de idade, talvez. Pois bem, adorava desenhar e tinha companhia, meu irmão mais velho, outro acima da média no traçado.
É muita enrolação para se chegar a um ponto, mas assim é a vida: complexa. O que importa é que após ver o filme do Conan, a nossa rotina mudou por um longo tempo. Ficávamos desenhando cada momento que lembrávamos do filme e, após gastar todo papel e lápis, íamos ao imenso quintal da casa do meu avô, onde reproduzíamos com nossos corpos e a nossa imaginação as lutas e trechos daquela obra cinematográfica que, hoje sei, é de qualidade discutível, mas que eu ainda insisto em discutir.
Soma-se a esse filme uma outra fatia do bolo, as “lendas arthurianas”. É que a minha mãe –guerreira que em nossa infância primordial levou os filhos sem a presença do pai das crianças (embora com ajuda infalível de meus avós e um punhado de tios que estavam por perto) –tinha um belo hábito de em certos momentos ler para nós, antes de dormirmos, contos de fadas, e tínhamos um apreço –meu irmão e eu –pelos contos que remetiam às estórias do Rei Arthur. Vou ser sincero, imagino que Arthur veio antes de Conan, mas não posso garantir, era muito pequeno. Posso sim afirmar que Conan marcou muito mais, porém ambos são responsáveis por um universo de Espada e Magia que não sai da minha existência.
Outras fatias que fazem parte do universo fantástico que marcaram são as estórias de vampiros e monstros em geral (os quais eu amava), os filmes de terror que eu não conseguia deixar de ver apesar de sentir medo, desenhos animados de todos os tipos. Mas peraí? Tudo o que eu coloco como sendo marcante na minha infância é diferente para mim do que foi para outros garotos da minha geração? Em certo ponto sim pela profundidade que atingiu, mas sem dúvida são elementos que estão presentes incluso nas infâncias de minha época até as infâncias de hoje.
Claro que todo garoto brincou com espadas e impressionou-se com o universo da magia. Certamente que os desenhos animados de minha época, como He-Man, Thundercats ou Caverna do Dragão traziam os elementos de espada e magia que marcaram uma época, embora os mesmos elementos apareçam de outras formas nas telinhas de hoje. Mas o fato é que Conan, meu amigo, veio acompanhado de um elemento que fez com que a influência tomasse conta do cotidiano, perdurando por muito mais tempo, Conan tinha uma história em quadrinhos de tiragem mensal chamada A Espada Selvagem de Conan.
Quando minha mãe podia, domingo era o dia oficial de irmos à banca de revistas. A principal era a tradicional Banca do Joel, na praça principal da cidade. Caminhávamos pelo centro da cidade, minha mãe com os dois filhos segurados pelas mãos. Era um momento de extrema alegria. Chegando na banca, era a hora de escolher. Eu sempre saía triste por um lado, pois por ser mais velho (ou seja, por saber se expressar melhor, por ser mais agitado por... sei lá porque) o meu irmão era sempre o que ficava com a revista Conan (não vou dizer A Espada Selvagem toda vez). No início lembro que eu chorava. Queria a mesma revista que ele, nem que fosse para comprar duas iguais. Eu também era louco pelo bárbaro da Ciméria. Mas minha mãe, sábia como todo adulto é, me convencia que tudo era dos dois, que aquilo era só uma formalidade e que era melhor eu escolher outra revista. Triste, eu escolhia outra revista e até era legal, por um lado, pois assim eu variei bastante entre revistas de monstros e Aventura e Ficção, mas eu bem sabia o que realmente queria.
Lembro bem (realmente) de estar sempre justificando para as pessoas que eu realmente gostava daquelas revistas, contando a outros as estórias que eu lia e narrando as aventuras, mas era tudo enganação, bom mesmo era Conan. Nas horas em que meu irmão e eu brigávamos, não tinha essa de ser tudo dos dois, mas com o passar do tempo, fui me acomodando ao fato de sempre ser ele a escolher o bárbaro na banca de revistas. Seja como for, isso foi só a infância, muito ainda está por vir.
Cresci mais um pouco. As revistas do Conan foram se perdendo com o tempo. Novos interesses foram surgindo como a tribo de amigos, as primeiras namoradas, o time de futebol e diversos elementos que fizeram com que, da mudança de Teresina para Curitiba, já não tivesse sobrado sequer um quadrinho do Conan em nossa casa. Naquele momento, nada disso era motivo de tristeza. Os quadrinhos continuaram em minha vida, mas os heróis eram outros, principalmente aqueles do universo Marvel que levavam um X mas não eram Streight Edge. Tinha um bando de amigos que liam a mesma coisa e na adolescência, como se sabe, fazemos ações conjuntas em rituais tribais. Mas eis que um certo hábito se iniciou pelo bairro, um tal de RPG.
Eu não gostava da existência do jogo entre os colegas da rua. Geralmente quando o pessoal estava jogando, não tinha ninguém para jogar bola ou mesmo para conversar. Tínhamos o hábito de, no início da noite, descermos de nossos prédios e ficarmos nas escadas dos prédios ou da rua conversando até os pais começarem a gritar nossos nomes ou percebemos que é tarde demais para ficarmos na rua. O RPG mudou um pouco esse ritual. A história desse jogo está toda relatada por mim em outros alfarrábios, basta dizer, por agora, que ele me chateou no princípio. Reclamava com os amigos, pedia que parassem com aquilo e que voltassem à rua ou o futebol, mas não teve jeito. “Vem ver um jogo, Felipe, só para olhar mesmo”. Se não pode vencê-los... fui. Ainda não foi o suficiente.
Estavam lá, doze, por vezes mais de quinze colegas ao redor da mesa, cada um com uma ficha, dados e livros coloridos. Meu irmão mais velho, com quem na época eu não falava, tinha um personagem que era um bárbaro, chamado Conan. Observei o jogo e achei chato. Alguém tinha faltado e me entregaram a ficha do sujeito. Não sabia o que fazer, mas na hora que os primeiros monstros apareceram, pediram que eu jogasse alguns dados, todos bem diferentes do normal. Joguei e fui embora.
O assunto RPG continuava. Meus amigos de escola todos jogavam, assim como os do bairro. Era questão de tempo que eu entrasse no ritual tribal, e entrei. Primeiro, escrevi uma aventura. Criei algumas coisas e fui em busca de imagens para ilustrar o que havia escrito. Naturalmente cheguei ao que restava de minhas revistas do Conan, ou o que tinha sobrado delas. As imagens de John Buscema alimentaram ainda mais a minha criatividade até que eu desse a história por acabada. Procurei um amigo que narrava RPG, passei a idéia, ele gostou e, juntos, “mestramos”, no que assim eu entrei para o ritual sagrado do grupo de adolescentes. Todos nós e o Conan.
Não saí mais do RPG e o universo de Espada e Magia tomou conta de mim novamente. Meu primeiro personagem: um mago chamado Mitra. Pensei em Crom, mas seria óbvio demais. Já tinha quase 15 anos e não consegui jamais abandonar esse hábito. A referência das minhas narrações nas histórias em quadrinhos eram fortíssimas a ponto de meu amigo Gustavo chamá-las de “Marvels Adventures”. Havia sentido naquilo, embora desde que fora verbalizado pelo meu colega, passei a abandonar (na medida do possível) as HQs como influência e procurar nas fontes literárias, o que me levou, obviamente, a Tolkien.
Mas o tempo passava, o trem andava e o barco navegava. Era o momento de escolher o que queria ser da vida. Foi difícil, eu tinha apenas 17 anos e pensava em ser muitas coisas. Fiz até um teste vocacional, que apontou “múltiplas tendências”, assim o homem do teste me recomendou que fizesse jornalismo, um curso que se faz de tudo um pouco. Tentei, passei, comecei as aulas, mas não me contentei. Algo fervia dentro de mim que não estava sendo saciado pela comunicação, embora eu estivesse gostando de cursar jornalismo. Tomei uma decisão e tentei História na Federal. Passei, algo em mim se acalmou e outra parte de mim ferveu ainda mais. Começaram as aulas de história medieval, vida monástica, oriente antigo e pronto, era aquilo que eu queria. Conan, Tolkien e História. As coisas se encaixavam.
Fui morar na Espanha e lá montei um grupo de RPG. Antes disso, claro, não conhecia ninguém. Passando por uma banca de revista, deparei-me com um quadrinho do Conan e não tive dúvida, comprei. Foi minha primeira compra de HQ na Espanha e isso é significativo. Na seqüência, enchi-me de Groos que, entre pulos de risos, acabei descobrindo que o Sérgio Aragonés se inspirou no Conan para criar “O Errante” e que até mesmo pensou em nomeá-lo Groonan.
Voltei para o Brasil, me formei, comecei a trabalhar e, com os meus primeiros salários, tomei uma decisão: vou começar a minha coleção de Conan. Não teve jeito, todos os dias após o trabalho passava nos sebos da cidade em busca de revistas do Conan. Consegui quase tudo do número um ao 150, mas não quis seguir adiante, pois para cima disso já não havia quase nada de Roy Thomas e John Buscema, com as histórias caindo muito em qualidade. Ainda assim comprei diversas até números acima do número 200, mesmo que até as capas fossem horríveis, longe daquelas do Jusko e demais artistas do começo dos tempos. Na seqüência comprei os filmes Conan o Bárbaro e Conan o Destruidor e descobri que mesmo sendo de qualidade discutível eu adorava aqueles filmes, concluindo, por fim, que minha vida tem uma estreita relação com o bárbaro da Ciméria e que diversas decisões tomadas foram influenciadas por aquelas primeiras letrinhas lidas com muita dificuldade quanto tinha tenra idade. Meu irmão mais velho tinha preguiça de ler os quadros com textos das revistas (que o Roy Thomas adorava colocar aos montes), ele lia apenas os diálogos e pedia a mim que lesse os tais quadros. Hoje, quando narro estórias de RPG ou dou aulas, é tudo muito parecido e não sai da minha cabeça criar as minhas próprias estórias. Mas, como diria o velhinho após os filmes do Conan, “isso é uma outra história”.